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Opinião

O que faremos com os nossos mortos?!

“O Homem só começa a ser Homem quando começa a enterrar seus mortos”

20/06/2008, às 11h06

A frase do historiador Aníbalde Almeida Fernandes dá-nos a noção da importância que sempre ouve, no decorrer da história humana,o zelo para com os entes após a sua morte. Para Aníbalesse divisor entre o animal e o primeiro homem ocorreu a cerca de 40.000 anos com o Homo Sapiens e o Homo Neanderthal, antes mesmo da agricultura, marcando o inicio da história humana. Em sua obra “A Genealogia como Fator Básico na Formação da Civilização”,ele afirma que o sentimento de cultuar os mortos foi moldado a partir de época bem remota e está sedimentado em quase todas as tendências religiosas e costurais.

A maioria de nós sabe que nas comunidades primitivas, agropastoris, inclinadas a culto agrícola e ao culto da fertilidade, acreditavam, originariamente, que, em sepultando seus mortos nas proximidades dos campos agrícolas, os espíritos desses  cadáveres ressurgiriam à vida  com mais vigor, quais sementes plantadas em solo fértil. Os egípcios a cerca de 4.000 anos atrás embalsamavam(preparar os cadáveres para não se putreficar)seus mortos como forma de prepará-los para a vida após a morte. Os japoneses festejam e cremam, os indianos vestem de branco e procuram desligarem-se, os brasileiros vestem de preto, choram e sepultam os que partem em um espaço com cerca de 2m de comprimento, por alguns centímetros de profundidade. A exceção a esse ritual místico é Piranhas,Cemitério São Miguel,onde os mortos não têm os seus espaços e tratamento merecido.

O que diria Aníbal de uma sociedade onde em seu espaço para sepultar os mortos,corpos são colocados sobre corpos? E o que essa sociedade tem feito para mudar essa realidade? Há ainda,no dito espaço, inundação,covas abertas… Sem usar de proselitismo, esse problema se arrasta há anos e pouco, ou quase nada, tem sido feito, tanto por aqueles que ocuparam o poder,quanto por nós, sociedade,gente. Os que gestaram o município e não resolveram erraram por ingerência, nós por omissão.

Se é falta de recurso,o poder público mostra a sua ineficiência e, nós cidadãos levantaremos fundos para aquisição do terreno,se falta licença, fecharemos rodovias e pressionaremos os responsáveis por tal,já que por muito menos, vemos movimentos dessa natureza. Mas não podemos esquecer que o poder público tem competência para desapropriar,e nesse caso, deve usá-la se preciso. Ou, por outro lado, voltemo-nos há 40.000 anos, deixemos de ser Homo Sapiens, tornemo-nos primatas, acabemos com as regras e o problemas e resolve.

Todos os livros de regra de conduta, aceitos ou impostos para sociedade, fazem menções aos mortos dizendo para deixá-los descansarem paz, não é certo,à minha compreensão, que deixemos assuntos com tanta relevância sempre para depois, esse ano porque é eleitoral, o próximo porque se inicia uma nova gestão, o outro novas eleições e assim vamos protelando o que não deve e não pode mais ser protelado.

Juntemo-nos, todos, os que têm ou poderão vir a ter um ente precisando ser sepultado em Piranhas, para resolver esse grave problema social. Ai sim, orgulhosos, pensando como Aníbal, voltaremos a ser gente: Homo Sapiens.

João Santana é historiador, marketólogo, bacharel em direito e editor do Jornal O+Positivo

 

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