Fazendeiros protestam em Iporá por mais prazo e juros menores
Mesmo com incentivos públicos, setor rural pressiona por novas condições de pagamento das dívidas
17/06/2025, às 14h06
Cerca de 300 máquinas agrícolas tomaram as ruas de Iporá, no Oeste de Goiás, na manhã desta segunda-feira (16), em um protesto liderado pelos sindicatos rurais de Iporá e Diorama. A mobilização reúne produtores de diversas cidades da região e conta com o apoio de prefeitos locais, além de entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
Os manifestantes cobram prazos maiores e taxas de juros mais acessíveis nos financiamentos voltados ao setor agropecuário. Uma das principais reivindicações é a renegociação das dívidas por meio da chamada securitização — um mecanismo que transforma débitos em títulos financeiros de longo prazo, permitindo o parcelamento em condições mais favoráveis.
Mesmo com acesso a crédito subsidiado, isenções fiscais e prioridade no Plano Safra, representantes do setor afirmam que a atual conjuntura econômica e a elevação das taxas de juros dificultam a continuidade das atividades no campo. “Não estamos pedindo perdão das dívidas, mas condições para pagar. Do jeito que está, fica inviável continuar investindo”, disse o ex-prefeito de Iporá e produtor rural Naçoitan Leite.
O presidente do Sindicato Rural de Iporá, Iron Filho, também se posicionou sobre o tema. Para ele, a escalada dos juros ameaça a estabilidade do setor. “Estamos vendo produtores entrarem em recuperação judicial. A taxa atual, que passa de 18% ao ano, compromete a capacidade de produção. Precisamos de linhas de crédito mais equilibradas, com juros de um dígito.”
De acordo com dados da Faeg, o volume de crédito rural aplicado em Goiás caiu 24% entre julho de 2024 e abril de 2025, em comparação com o mesmo período anterior — de R$ 34,95 bilhões para R$ 26,22 bilhões. Os financiamentos realizados por bancos públicos, que concentram cerca de 75% das operações, também tiveram retração de 16%.
Apesar da redução nos repasses, o setor rural ainda representa uma das maiores fatias do orçamento destinado ao crédito no país. Para o ciclo 2024/2025, o Plano Safra destinou R$ 475,5 bilhões, sendo R$ 16,7 bilhões reservados à equalização de juros. A projeção para 2025 é de queda, com R$ 15,03 bilhões previstos.
No Senado Federal, um projeto aprovado pela Comissão de Agricultura prevê a possibilidade de renegociar dívidas contratadas até junho de 2025 por produtores atingidos por eventos climáticos extremos. A proposta ainda aguarda análise no Congresso Nacional.
O protesto segue sem prazo para terminar. Segundo os organizadores, caso não haja resposta do governo até quarta-feira (18), o movimento deve se expandir, com a chegada de produtores de outras cidades e ações prolongadas no município.