MENU

JORNAL O+POSITIVO - FUNDADO EM 2004

quarta, 28 de Maio de 2025

É FÁCIL VER A DIFERENÇA, COMPARE!

PUBLICIDADE

Destaque

Conto: “O Homem que Sabia Tudo”

Durante anos, ele apontou erros, prometeu soluções e construiu a imagem de um salvador. Mas quando finalmente chegou ao poder, foi vencido pelas próprias contradições e mergulhou a cidade no mesmo caos que tanto criticava.

27/05/2025, às 13h05

Foto ilustrativa

Por João Santana

Havia, em uma pequena cidade, um homem que se dizia conhecedor de todas as respostas. Sabia como gerir melhor os recursos, como fazer a saúde funcionar, como revolucionar a educação e acabar com as velhas práticas políticas. Chamavam-no de “o homem que sabia tudo” — e ele não recusava o título.

Durante anos, fez da crítica a sua bandeira. Em praças, nas redes sociais e até nas esquinas e supermercados, dizia, em voz alta, tudo o que estava errado. Apontava falhas, acusava descaso, denunciava supostos desvios. Tinha sempre uma solução na ponta da língua e um inimigo no alvo da vez.

Falava como quem sonhava alto. Pregava a paz como caminho, a harmonia como regra, e a política como serviço — não como vingança. Dizia que a máquina pública deveria ter mãos estendidas, não punhos fechados. Prometia respeito aos servidores, acolhimento ao povo, e garantia que ninguém seria perseguido por pensar diferente. Suas palavras embalavam esperanças, como quem prometia um novo tempo.

“Se eu fosse prefeito…”, repetia como um mantra, até que um dia o povo acreditou.

Com uma campanha marcada por promessas inflamadas e palavras bem colocadas, foi eleito. A cidade inteira esperava, enfim, o tal homem que sabia tudo mostrando como se fazia.

Mas, assim que assumiu o poder, o homem que dizia saber tudo começou a errar. As transformações tão prometidas em campanha não aconteceram, e o discurso de mudança rapidamente deu lugar à prática da velha política.

Os discursos vigorosos deram lugar a desculpas técnicas. Os erros que tanto condenava, ele começou a repetir — e, pior, justificar. Onde antes havia denúncia, agora havia silêncio. Onde havia indignação, agora havia conveniência. Cercou-se de bajuladores e se afastou da verdade.

E, ao contrário do que pregava, passou a perseguir todos que não atendiam aos seus interesses. Cidadãos, servidores e antigos aliados tornaram-se alvo de retaliação. A harmonia que prometeu virou discurso vazio; o respeito, apenas fachada. A máquina pública, que deveria servir ao povo, virou instrumento de vaidade e vingança.

Cada decisão parecia contradizer a anterior. A promessa de mudar tudo virou o símbolo de um governo perdido em suas próprias armadilhas. A cidade já não via nele o homem das soluções, mas o reflexo de tudo aquilo que ele jurou combater.

Em pouco tempo, seu nome se tornou sinônimo de frustração.

E aquele que um dia foi a esperança de mudança passou a ser lembrado como o pior prefeito da história.

Pois o homem que sabia tudo, afinal, não sabia governar!

 

João Santana é cidadão piranhense, historiador, cientista político, publicitário, bacharel em Direito e diretor do Jornal O+Positivo.

Veja também

PUBLICIDADE