A crônica do “Peixe no Céu”
Uma homenagem de João Santana a três piranhenses que partiram
21/05/2025, às 13h05
Na manhã em que Celino partiu, Piranhas ganhou um silêncio diferente. A cidade ainda acordava, mas em muitos corações já faltava um pedaço. Celino, o Neguim Pescador, retornou a casa do pai – sereno, sem alarde, como era seu jeito.
Chegou no céu com os olhos ainda cheios de mundo. Andou devagar por entre as nuvens, sentindo falta do chão molhado, do cheiro do rio, das conversas de fim de tarde. Mas São Pedro, generoso com os bons, logo lhe apesentou o que faltava: um rio celestial, com águas brilhantes como a luz e cheio de peixes. E ali, como sempre fez, pescou. Não demorou para o Neguim Pescador fisgar um peixe grande, bonito, desses que dariam gosto de dividir.
Só que, por um instante, ficou parado, peixe nas mãos e coração meio perdido. Com quem dividir aquele sabor, agora?
Foi quando Margarett chegou. Desembaraçada como sempre, mas perdida no espaço celestial. Seus olhos brilharam ao reconhecer o amigo, e sem dizer muito, pegou o peixe e disse com um sorriso que parecia abraço:
— Deixa que eu faço. A gente come junto.
Enquanto o peixe assava e a saudade parecia virar brisa, apareceu o Lindomar Cardoso. O “Lindo”, como era carinhosamente chamado pelos amigos. Como sempre, chegou trazendo alegria, contando piada, fazendo os dois rirem como se estivessem numa calçada qualquer da terra. Sentaram-se os três, comendo devagar, lembrando histórias e inventando outras.
A partir desse momento o céu ficou mais quente, mais vivo. Como se lá em cima também tivesse cheiro de peixe assado, gosto de amizade e som de risada boa. A partir daí os três se sentiram em casa no paraíso celestial, como se estivessem na Peixa terrena.
Por João Santana